A minha experiência de compartilhar estes dois livros com o grupo foi muito enriquecedora. Quero, em primeiro lugar, agradecer a todos, a disponibilidade, o interesse, a presença e a iniciativa em criar e manter um espaço para trocar experiências de leitura. Agradeço à Letícia e ao Yuri que regeram com maestria nosso grupo.
Acredito que as reflexões, as trocas de opiniões e o debate sobre as leituras me trouxeram a desafiadora aventura do crescimento.
O desafio de ler, refletir, falar e debater dois clássicos me fizeram maior. Tendo em vista os vários compromissos da vida, o primeiro desafio para mim foi encontrar tempo. Procurando brechas no dia a dia fui colocando as leituras e correndo para os encontros semanais. Logo senti a conexão com a primeira leitura e a presença da Antígona apareceu no meu cotidiano. O grupo e os coordenadores aprofundaram incrivelmente a minha conexão com o livro e assim fui crescendo na capacidade de ouvir o grupo, de me expor, de debater, de refletir. Antígona e o grupo me aproximaram de um tempo que parecia morto e guardado em livros e filmes, mas vi este tempo com seus personagens, dramas, conflitos ganharem vida e com a ajuda de todos no grupo me senti fazendo uma grande costura daquele tempo com o nosso. Foi muito prazeroso.
Com O Estrangeiro o desafio foi me conectar com o livro. Não tinha interesse, cada frase parecia um convite a me desconectar. Inicialmente li o livro para participar das discussões, uma obrigação. Usei o grupo para me conectar com um livro que há tempos me foi recomendado e tentava ler sem nenhum sucesso. Graças ao grupo consegui ler. O livro parecia fadado a entrar na estatística de LIDO e fim. Me sentia como o personagem principal, em relação a este livro: "tanto faz". Porém como com Antígona ele passou a aparecer no meu dia a dia. O tema: Esta Tragédia Humana passou a me desafiar.
As questões levantadas pelo grupo, as observações dos coordenadores nos ajudando e nos provocando a mergulhar no livro me conectaram com ele. Me vi compelida a buscar respostas para o drama do personagem. Não queria colocar a Psiquiatria no meio disso. Mas tendo acabado de discutir com os alunos sobre impulsividade e compulsão no ambulatório, me vi tentando classificar nosso personagem para eu poder ter meu julgamento sobre ele ... Percebi certo incômodo provocado por essa minha dúvida psicopatológica. Claro, não estávamos lá para discutir psicopatologia. Mas preciso dizer que esta dúvida me conectou ao livro. Meu interesse cresceu, passei a sorver os comentários, os pontos de vista, as análises e a tentar fechar o meu julgamento ou diagnóstico ou critica. Vi o personagem preso em sua soberba… compulsivo pelo prazer… aprendi sobre o embotamento do personagem e a banalidade do mal e o desenrolar da grande tragédia. Com certeza não será mais um livro lido, mas sim um BELO livro sobre tragédia humana. Também fizeram parte da minha experiência observar com curiosidade as diferentes interpretações sobre o livro. Elas me ajudaram a compreender outros pontos de vista e os possíveis diferentes usos que podemos fazer com a mesma leitura. E com isso também, ampliar a experiência da leitura e seu compartilhamento.
Patricia Helena Vaz Tanesi
Relato LabHum 1° semestre de 2024
Textos: Antígona - de Sófocles / O Estrangeiro - de Albert Camus