[por Natália Guedes Alves - aluna de Tecnologia Oftálmica*]
Primeiramente cheguei a eletiva do laboratório de humanidades esperando um modelo de “clube do livro” acreditando que faríamos a análise fria da narrativa proposta com conclusões literárias. Na verdade o que acabei felizmente encontrando foi um grupo de debate, com referências literárias.
Sem verdades absolutas como resultado das discussões ao longo das últimas semanas acabei me deparando mais com questionamentos do que com respostas e conclusões sobre os temas debatidos sobre a obra “O sonho de um homem ridículo” de Dostoiévski.
Acompanhando a trajetória do personagem que está longe do modelo padrão de um protagonista, fiquei surpresa com a complexa filosofia abordada em 23 páginas e a temática que se mostrou atemporal, me fazendo ficar interessada em ler outras obras do autor e pode-se dizer que adubou uma sementinha literária que há muito tempo não se desenvolvia ficando presa a leituras de referências bibliográficas e livros técnicos exclusivamente de temática médica.
A respeito da narrativa é impossível não se atentar ao modelo da escrita descritiva do autor que proporciona uma imersão de tal forma que é como se estivéssemos observando realmente de dentro da cabeça - ou quem sabe da alma - do homem ridículo, sentindo sua angústia na vida antes do sonho permeado pela ideação suicida e o êxtase da chegada ao novo mundo onde ele conseguia sentir não apenas a dor, mas o amor fraterno, compaixão e empatia para com todos que ali encontrou, admirado.
Com as pontuações feitas em aula pude me deparar com várias perspectivas diferentes dos mesmos parágrafos lidos mas com mensagens distintas, extraindo um conteúdo mais aprofundado e complexo do que o descrito; entre visões religiosas, filosofia Nietzschiana e de Hobbes e o amplo significado do homem como ser social acabei me notando mais pensativa durante essas semanas acerca da vida, do equilíbrio entre bem e mal e da natureza humana.
Sobre o modelo de aula eu achei cativante, me inspirou o pensamento crítico mas também à imaginação transportando-me, mesmo que brevemente, ao mesmo sonho daquele homem tido como louco. O espaço sem julgamentos de ideias é estimulante para discutir ideias saudáveis onde abordamos a trama passando por assuntos como o valor e significado da vida, a corrupção moral do homem com suas causas e efeitos e o contraponto entre o ideal imaginado de sociedade utópica com a realidade vivida por cada indivíduo.
Gostaria de tirar um espaço para agradecer aos professores responsáveis Dante Marcello Claramonte Gallian e Yuri Bittar que provavelmente lerão esse relato e até aqui talvez não percebam com clareza - possivelmente pelo meu esforço em ser formal como manda a rotina acadêmica - o quanto essa disciplina eletiva foi produtiva e significativa para mim, num ambiente onde as discussões costumam manter um modelo “engessado” vocês conseguiram criar um meio de se colocar como mediadores de ideias que eu achei incrível e que com certeza é o ponto principal a ser destacado nessa experiência no meu ponto de vista como aluna. Sem vocês nada disso seria possível, obrigada por pensarem fora da caixinha e nos levarem a fazer o mesmo.
Até o próximo laboratório de humanidades!
* Texto enviado como relato de experiência (final de curso) do Laboratório de Humanidades da graduação do campus São Paulo da UNIFESP, disciplina eletiva ofereida pelo CeHFi.
como se estivéssemos observando realmente de dentro da cabeça - ou quem sabe da alma - do homem ridículo