O Apanhador no Campo de Centeio - 5 textos

Cinco reflexões sobre o texto O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger. Camila Dantas S. Barros, Aparecida Bastos Pereira, Sandra Araujo, Maria da Glória S.G. Marcondes e Juliana Mourão Ravasi apresentam diferentes visões sobre a mesma personagem, sobre si mesmas e sobre todos nós.

1. O Apanhador no Campo de Centeio
Por Camila Dantas S. Barros - Doutoranda do Programa Neurociência

Antes de falar sobre minha experiência durante a leitura deste livro, tenho que contar minha experiência com o livro antes de lê-lo. Muitas pessoas passam a infância com medo de insetos, palhaços, o monstro debaixo da cama ou dentro do armário e eu tinha medo de livro, especificamente desse. É, cada louco com a sua loucura. Então, para mim, este ciclo foi libertador. Foi muito bom poder compartilhar em grupo, uma experiência tão pessoal para mim que provavelmente não realizaria sozinha. Muito Obrigada!

Não sei ao certo o porquê do medo do livro, talvez porque quando ouvi falar dele pela primeira vez, eu deveria ter uns 10 anos, falavam sobre a relação dele com alguns casos de assassinatos, onde foram encontrados exemplares deste com os agressores. E anos depois assisti de relance uma cena de um filme, onde havia uma fila de pessoas andando em uma plantação, o céu meio alaranjado, e pra mim estas pessoas estavam caminhando pra morte. Por alguma razão, toda vez que pensava no livro essa cena vinha à minha mente também, e tinha uma sensação muito ruim, por isso nunca me interessei em ler e saber mais sobre o livro. Então quando vi qual seria a leitura desse ciclo, fiquei bem dividida, mas resolvi ler e enfrentar meu medo de infância.

Dito isso, tenho que dizer que o livro me decepcionou, ele não é do mal, não aconteceu nada demais, estou bem, ninguém morreu! Afinal, ele era e sempre foi apenas um livro, muito bem escrito por sinal. Adorei a sensação de estar literalmente na mente de alguém, ouvindo seus pensamentos mais secretos, suas angustias e indagações. Mas, é uma pena que tivemos na mente de Holden bem nos seus dias mais conflituosos. Porém, a maneira como o autor consegue emendar a narrativa dos acontecimentos com os pensamentos e reflexões de sua personagem principal é encantadora, e faz com que não percamos a vontade de ler, e sim que queiramos saber quais serão os próximos passos de Holden.

Como conseguimos ler os pensamentos de Holden sem filtros, nós acabamos vendo muitas facetas deste adolescente, suas inseguranças, medos, seus julgamentos, sua compaixão, sua ira e por isso vimos nas discussões pessoas o amando e outras o detestando, e muita gente mudando de ideia no meio do caminho. Eu me simpatizei com o Holden logo nas primeiras páginas, me vi um pouco nele, lembrei que desde pequena fico olhando as pessoas no metrô e imaginando o porquê da pressa, quais as histórias que as levaram até ali, o fato de se expressar melhor na escrita, por isso ele vai bem em redação mas não em Expressão Oral. Mas, depois que ele foge da escola o livro parece que ganha outro tom, e mais parece o monólogo do tédio. Monólogo porque apesar de ter outras personagens, nós somos apresentados a elas sempre pela visão de Holden, com seus pensamentos e julgamentos, não podendo ter a clara noção de quem são. Nos trechos da fuga a leitura foi massante e só voltou a fluir quando ele encontrou a Phoebe, talvez porque ela diz para ele tudo que eu queria dizer, dá um chacoalhão nele para ver se acorda, e logo em seguida há o encontro com o professor Antolini, onde há mais um chacoalhão, mais um belo diálogo.

O Holden parece um adolescente sensível e abalado, talvez por isso transmita a sensação de ser desajustado e tedioso. Mas só sabemos disso porque lemos seus pesamentos, mas visto pelas pessoas de fora, ele deve parecer inconsequente, autoritário, arrogante, sem perspectiva. Isso me fez refletir como a gente pré julga os adolescentes de hoje, como alienados, geração facebook entre outros, e exaltamos muitas vezes essas personagens de ficção, ou nem tanto de ficção assim. Os jovens hoje são como o Holden, cheios de questões, criatividade, curiosidade porém nem sempre suas ações condizem com seus pensamentos, pois assim como o “futuro apanhador”, os jovens hoje muitas vezes tem seus interesses limitados e direcionados de forma mecânica pela metodologia de ensino, mídia, sociedade o que faz com que fiquem dispersos em aulas, desinteressados, se mostrem muitas vezes descomprometidos e alienados. Mas por dentro têm um vulcão de ideias, boas ideias, e o anseio de fazer a diferença. A diferença destes jovens de hoje e Holden, ao meu ver, é uma só... Nós conseguimos ler os pensamentos de Holden, enquanto não temos paciência o suficiente para escutar e entender o pensamentos dos jovens aqui de fora do livro.

Este livro conta mais do que os conflitos da adolescência pois também relata a falta do olhar do outro, aborda bastante a questão de não escutarmos uns aos outros. As pessoas parecem não escutar Holden, a única que para para escutá-lo é sua irmã mais nova, e talvez essa seja a chave para essa relação parecer tão boa, ela para para escutá-lo. Porém, ele parece estar começando a repetir esse padrão de não escutar, pois em alguns momentos quando Phoebe tenta falar com ele, ele não a ouve e algumas vezes a interrompe. Ele gosta de digredir mas não tem paciência com a digressão do outro.

A hitória parece se basear na busca de Holden pela sua identidade verdadeira, o que me lembra o livro Névoa com Augusto. Porém, o Holden é diferente de Augusto, pois ele está vivendo as mudanças da adolescência, se transformando fisicamente e psicologicamente tentando encontrar seu espaço e onde se encaixa. E em meio a esse turbilhão de informações fisicas e emocionais, sua família e ele próprio esta vivendo o luto. A morte prematura de seu irmão, e o mais difícil é porque eles parecem não saberem que esse sentimento deveria ser sentido e não escondido como parece ter sido feito desde a morte de Allie.

Desde o começo do livro, lembro de ter pensado como os pais de Holden parecem a frente do tempo em que se passa a história, fim da década de 40. Pois, se hoje não é comum encontrarmos pais que se preocupem com a saúde mental do filho, há 70 anos atrás acredito que era muito mais incomum. Eles me parecem pais modernos para época, por isso e por outras questões, como deixar um de seus filhos seguir o sonho e ir para Hollywood, em um tempo onde isso não era visto com bons olhos, e eles sendo de uma classe privilegiada isso ficaria mais evidente. Estes pais me parecem, bons pais, pais presentes, principalmente a mãe, ela mesmo carregando o luto não deixa de acarinhar sua filha Phoebe ao chegar em casa, não deixa de se preocupar com o futuro do seu filho Holden e tentar buscar, junto com ele, o lugar onde ele possa ser feliz. A maneira com que o Holden fala de sua mãe, me faz acreditar que há muito amor e carinho envolvido nesta relação, ele se sente culpado por não ser um filho melhor, mais “ajustado” ao que a sociedade espera. Porém, não parece que os pais dele estejam tentando impressionar outras pessoas e sim que eles estão tentado ajudar seu filho.

Essa questão da responsabilidade dos pais nos atos de seus filhos, principalmente da mãe, foi levantada tanto no livro Névoa, onde falaram que a mãe era super protetora e por isso Augusto tinha atos infantiloides, como no livro O Apanhador no Campo de Centeio, onde muito foi dito sobre a ausência dos pais, o que eu discordo. Os pais têm a função de orientar e criar oportunidades para que seus filhos possam trilhar seus caminhos da melhor maneira possível, porém são os filhos que têm que seguir esse caminho. E neste aspecto, achei os pais do Holden, principalmente a mãe, excelentes pais, principalmente para a época em que viviam e a posição social que tinham. Quando digo principalmente a mãe, é porque imagino toda a pressão que ela como mulher e mãe, o pilar da família conservadora, devesse receber da sociedade da época, afinal ela tinha um filho morto que ela não conseguiu salvar, outro transviado que trabalhava em Hollywood e para fechar, tinha mais um filho que era desajustado, alienado, que não quer saber de estudar. Só se salva a Phoebe, por enquanto. Com certeza era o que a sociedade da época deveria pensar, mas ela se mostra sempre, segundo os olhos de Holden, como uma mãe afetuosa, apesar de parecer um pouco abatida em alguns momentos. Ela foi uma grande mulher, e por isso eu acabei o livro com a sensação de que deveria dar-lhe um abraço e dizer que não é culpa dela, que ela estava fazendo o seu melhor.

Nós lemos 3 dos piores dias de Holden, por isso acredito que o fim do livro seria só o começo para ele. Ele é apenas mais um adolescente em busca de si mesmo, de seu lugar, seu espaço para criar, viver e quem sabe se transformar no tal Apanhador no Campo de Centeio.

" 'A característica do homem imaturo é aspirar a morrer nobremente por uma causa, enquanto que a característica do homem maduro é querer viver humildemente por uma causa' ".

2. História de Convivência
Por Aparecida Bastos Pereira

O encontro com Holden me trouxe, a princípio, um reencontro com a minha experiência de adolescência. Inquietação, estranhamento do mundo, das relações e muitas, muitas incertezas. Poderia ter me encontrado com Holden naquele momento e teríamos, certamente, uma boa conversa, autêntica, “séria”, “para valer”!!

Encontrá-lo agora me coloca uma questão, que posso escutar no tom desafiante de Holden: E aí? Você fez o quê com o seu descontentamento adolescente? Manteve-se fiel à sua possibilidade de estranhamento, ou rendeu-se ao “unificado e simplificado”? Holden, o apanhador, parece ter retornado, de algum lugar adolescente, para me cobrar um compromisso com uma lucidez experimentada na minha juventude.

Constato que se eu “vi”, se eu em algum momento não estava tão identificada com o que era estabelecido e determinado socialmente, se eu desconfiei disto e por uma brecha pude vislumbrar outras realidades, esquecer esta experiência, adormecer, seria trair a adolescente que “se jogou” para segurar a “argola de ouro”, com todos os riscos que este salto envolvia. Holden exige, com bastante vigor, compromisso com esta vivência adolescente!

Nas suas experiências reconheço também os perigos da minha trajetória. Holden, caindo, caindo, vive à beira da loucura e da morte, levando ao limite a sua vivência de estranhamento. Para onde vão os patos no inverno da adolescência? Para onde vai a vida, aquilo que não pode morrer, neste inverno da alma?

Não sabemos qual o destino de Holden. Salinger não nos dá garantia quanto ao seu futuro, que deixa aberto para um “não sei”, para um “como é que eu posso saber?”. Desta forma mantém Holden perpetuado neste lugar adolescente, sem nos oferecer uma resposta segura para os seus enigmas, deixando a sua voz inquietante ressoar perpetuamente, tirando o nosso sossego.

Neste espaço aberto deixado por Salinger quanto ao destino de Holden, penso nos desdobramentos possíveis de uma adolescência povoada de estranhamento. Percebo, reconhecendo os riscos na minha própria história, o perigo de uma saída pelo enlouquecimento, ou o perigo de um retorno rápido e precipitado ao lugar confortável oferecido por um compromisso com os valores socialmente estabelecidos.

Mas o professor Antolini nos aponta outra possibilidade quando sugere a Holden que ao invés de morrer nobremente por uma causa, ele possa dedicar-se a viver humildemente por uma causa.

Posso então reconhecer que não deixei de estranhar e inquietar-me, e que continuo a preocupar-me com o destino dos patos no inverno das relações desprovidas de afeto e autenticidade, e no nosso cotidiano marcado muitas vezes por uma experiência de brutalidade e anestesiamento.

Acompanhando Holden na sua jornada, penso que humanizar é não deixar de estranhar! É não deixar de deslocar-se, de sentir-se fora de lugar em relação ao que é estabelecido como realidade, escolhendo cotidianamente viver com humildade por uma causa.

3. O Holden está presente no nosso dia a dia
Sandra Araujo

História de Leitura

Terminamos mais um livro incrível, de leitura simples, envolvente e dinâmica, pois toda história se passa em apenas três dias. O que mais me intrigava durante a leitura era o fato não conseguir ligar o título do livro com a narrativa. Tudo que encontrei foi o relato de um rapaz incrivelmente sensível, generoso, caridoso, cheio de recordações vividas com sua família, amigos e pessoas do seu dia a dia, como professores, namoradas, vizinhas, etc.. mas que por uma infelicidade perdeu seu irmão querido, ainda muito jovem e que ao meu ver, não está sabendo lidar sozinho com essa nova realidade, visto que, seus pais, principalmente sua mãe, também sofre muito com a morte de seu filho. Interessante notar que sobre os pais ela fala muito pouco, mas dá algumas dicas.

Agora, um fato real que chama atenção é que alguns assassinos estavam lendo este livro ao cometerem seus crimes. O primeiro é Mark David Chapman, que matou John Lennon, outro é Robert John Bardo, o assassino da atriz Rebecca Schaeffer e tem também John Hinckley, que atentou contra a vida de Ronald Reagan. Isto me deixa bastante ansiosa para iniciar o itinerário, visto que não encontrei nenhum motivo no livro que ligasse uma circunstância a outra.

Itinerário de Leitura

O compartilhamento da leitura é sempre muito interessante, enriquecedor, onde ampliamos a nossa forma de ver o mundo, pois o leque que se abre trazendo informações, conteúdo, significado para cada símbolo, cada gesto, cada sentimento é muito abundante, embora nem sempre a gente concorde com o que foi dito, mas faz com que reflitamos muito sobre a discussão. Especialmente este itinerário foi curto, mas muito proveitoso, como sempre.

História de Convivência

Esse livro trouxe à tona muitas lembranças vividas com a perda de minha mãe. Após sua morte, comecei sentir dores esquisitas, principalmente no peito, por três vezes fui parar no pronto socorro. Na terceira vez, após ser examinada e feito todos os exames, a médica me disse: “Sandra, sozinha você não vai conseguir ...” e me encaminhou para psiquiatria. Acho que neste momento voltei para realidade. Rasguei o encaminhamento médico e fui buscar auxilio na religião, no esporte e no trabalho, porque minha família também estava machucada.

Julgar o Holden é muito difícil, porque cada pessoa tem uma reação diante da dor e somente quem passa por isso é que consegue entender esse comportamento. É um momento muito complicado, especialmente para um adolescente com um vínculo tão próximo e tão afetivo.

Fico imaginando o que teria acontecido com ele, como é o adulto hoje, no que ele se formou, se casou, como é sua família e seus filhos, porque essa dor ameniza, mas as lembranças são para sempre. Em algum momento ele vai reagir e retomar o rumo da sua vida. E ao julgar pelo comportamento que ele demonstrou durante sua narrativa, deve ter se transformado num homem brilhante, de sucesso, sensível e mais humano que já conheci.

Portanto, vejo que um tema importantíssimo para ser discutido no Laboratório é como acolher uma pessoa que está passando por este momento tão doloroso, pois ninguém gosta de falar sobre o assunto, os amigos querem falar de coisas alegres, divertidas para ver se animam a pessoa enlutada, pois não querem vê-la chorando. Neste momento há necessidade de ter alguém ouvindo e compartilhando da nossa dor, raiva, amargura, medo, lembranças, isso ajuda entender essa nova realidade, e foi esse o papel da Phoebe.

E outro assunto também importante é a discussão sobre religião, pois num ambiente como uma Escola de Medicina, onde convivemos diariamente com a dor, o sofrimento, a perda de entes queridos, há necessidade dos profissionais terem uma crença, algo que lhes dê sustentação. Acompanhar pacientes de quimioterapia, hemodiálise, dar a noticia da morte para a família requer do profissional muito equilíbrio emocional e espiritual. Esses são temas que sinceramente, não encontrei aqui na Unifesp no momento em que necessitei.

Como dizem, jamais podemos julgar um livro pela capa, o Apanhador no Campo de Centeio, um livro aparentemente informal, engraçado, dinâmico quando compartilhado com um grupo como o Labhum se transforma em algo tão real, em lembranças tão presentes, em momentos inesquecíveis vividos por nós com nossos familiares e amigos e a sensação é que o Holden está presente no nosso dia a dia. Interessante notar, que não temos esse sentimento na primeira leitura, feita sozinha.

Obrigada Prof. Dante por nos propiciar esses momentos tão preciosos, tão importantes, tão intensos, de reflexões, recordações, aprendizagem, enfim, momentos de muito prazer, onde o Laboratório cumpre mais uma vez o seu papel estético, acolhedor e enriquecedor.

E ao concluir mais este ciclo já fico na expectativa do próximo livro.

4. Tudo negativo?
Maria da Glória S.G. Marcondes - Mestranda CEDESS

Este livro foi realmente bastante difícil. Iniciei a leitura e imediatamente percebi que a história não me pegaria. Insisti, tive sono! Após a primeira reunião me empolguei com os comentários do professor e de alguns alunos da graduação. Tentei novamente e realmente não deu. A leitura foi forçada, para cumprir prazos. Na maioria das vezes em pé, lendo no computador para me manter acordada. Achei o personagem principal muito chato. Nos encontros comecei a achar que havia uma busca em idealizá-lo, mas para mim sempre foi forçado, nada natural, dando ao personagem qualidades que ele não tinha. Quando faço reflexões entre o personagem e o que foi falado sobre o autor Salinger consigo me sensibilizar pela história e destino do autor e personagem.
Em relação aos encontros não foi mais fácil ou melhor, neste livro eu fiquei bastante desgostosa. Parece que vi tudo negativo. Achei as discussões boas, mas me pareceram prolongadas, com imposição de algumas falas e silêncio de outras. Lógico que as falas são sempre pertinentes, quanto a isso não se discute.
Paralelamente tenho que destacar que as falas do professor são sempre muito bem vindas, esclarecedoras, abrem o potencial de entendimento e discussão. Prendem e chamam para outras leituras, de outros livros, que espero possam ser mais interessantes para mim.
No último encontro relembrei um sentimento anterior, durante o percurso das conversas sobre este livro, a história de Parsifal, do poeta Wolfram von Eschenbach. Naquela história o personagem principal, Parsifal, não faz a pergunta fundamental que salvaria seu tio da morte. Ele vive muitos encontros e desencontros até voltar ao tio e perguntar: Do que padeces, meu tio? E seu tio fica curado. Tão simples de dizer, mas difícil de saber a importância. Nesta obra Holden, como o tio de Parsifal, espera pela pergunta, pela pessoa que se importe com ele, pelo amor.
Não posso apagar o que já escrevi, pois fez parte de minhas emoções, mas esta relação com uma obra e personagem do qual gostei tanto me trouxe agora um sentimento de carinho e apreço pelo Holden.
Novamente hoje, com as diversas falas de convivência, entendi melhor o personagem e percebi que o incômodo geral que senti, à partir desta leitura e encontros, tem relação comigo apenas, descortinou minha indiferença e insensibilidade para com estas dores de que trata Holden. Sou muito prática e sigo a vida nos afazeres e obrigações, preciso mais do que nunca compartilhar mais leituras e me humanizar. Como Parsifal, aprender a pergunta redentora, aprender o olhar para o próximo, ser tolerante com os mais sensíveis e devido a isso, talvez mais questionadores e inconformados. Uma surpresa esta obra impor este aprendizado. Fico agradecida!

5. Os apanhadores do século XXI
Juliana Mourão Ravasi - Mestranda do Departamento de Medicina Preventiva – Unifesp

Quando descobri o Laboratório de Humanidades dento do campo da Saúde, me senti encantada com o fato de poder estudar mais sobre a área de humanas dentro da área de biológicas.
Por sempre ter gostado de ler e ter ouvido falar muito bem do curso, resolvi me inscrever. Ao me deparar com o título do livro, fiquei mais surpresa ainda afinal, o assassino do meu cantor favorito havia lido ele antes de matar o John Lennon! Pensei que leria algo violento. Tive até medo, por alguns instantes. Vai que o livro mudasse algo em mim? E mudou! Mas somente de forma positiva. Ele me fez pensar e refletir mais sobre o meu papel na sociedade e em como somos individualistas, frios e calculistas em nosso mundo.
Logo que me deparei com o Holden, tive certa antipatia por ele. Mas depois comecei a reparar o quão concreto, real e indagador ele era.
E como tudo o que ele falava se encaixa perfeitamente em nosso século, apesar de o livro ter sido escrito em 1951.
O modo como ele indaga sobre a solidão e sobre como o nosso mundo é triste e cada um pensa apenas em si, me faz pensar o quanto o nosso “Oi, tudo bem?” não passa apenas de uma simples frase sem qualquer tipo de interesse na vida da outra pessoa, muito menos em seus problemas.
Na passagem que dá o título ao livro, Holden explica que não consegue se imaginar se encaixando em nenhum papel que a sociedade espera dele, como por exemplo, ser um advogado ou um cientista. Ao invés disso, ele se imagina como um apanhador no campo de centeio, que fica na beira de um grande campo de centeio protegendo criancinhas, impedindo-as de cair. Com isso, é possível ver os dois lados da personalidade de Holden, quando ele admite que ele é um fracasso e que não consegue se encaixar no mundo adulto, mas também é sensível e inocente, tendo compaixão e compreensão por aqueles que são descolocados ou indefesos.
Ao compararmos o personagem principal aos adolescentes de 16 anos dos dias de hoje, percebemos que a grande maioria também não sabe em que lugar se encaixará no futuro, sendo que, diferentemente do Holden, nem se preocupam com grandes questões da humanidade ou questões pessoais, tão profundas quanto às dele.
Sendo professora do ensino médio e vivenciando isso no dia a dia, fico preocupada em saber quem serão os futuros apanhadores do nosso século, ou melhor, será que existirão pessoas com este interesse? E mais ainda, até que ponto nossa individualidade e apatia com as pessoas chegarão?

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