por Isabela Pellacani Pereira das Posses
Livro: O Idiota - Fiódor Dostoiévski
Começar esse relatório com “O Laboratório de Humanidades foi importante porque...” é um grande cliché, apesar disso, não vejo outra maneira mais apropriada de começa-lo, dada a importância e como foi tocante nossos encontros. Assim sendo, começo exatamente dessa maneira: O Laboratório de Humanidades foi importante porque acima de tudo me mostrou como ler um livro pode não se tratar apenas de ler um livro.
Inspirada pela minha mãe desde muito nova, sempre gostei muito de ler e estive rodeada de adoráveis e admirados títulos, no entanto, minhas leituras sempre foram muito despretensiosas, sem muitas reflexões, mas o LabHum me proporcionou refletir mais a cerca da "história por detrás da história", detalhes e grandes discussões que estão tão atreladas ao nosso cotidiano, a minha própria vida, ou a pelo menos, uma fase dela.
O Idiota, livro ao qual nos referimos todo esse período me pareceu um tanto assustador no começo e me fez perder o ânimo antes mesmo de terminar os primeiros capítulos, mas ao ouvir as experiências de leitura dos meus colegas me fez animar novamente. Persistentemente e mesmo sem entender algumas partes e me achar uma grande idiota (rsrs), voltei a lê-lo. Infelizmente não conseguir acompanhar o grupo nas leituras, estava sempre atrasada nos capítulos, o que poderia ser bastante desfavorável e desanimador para alguns, mas ao passo que as discussões se aqueciam eu percebi um detalhe precioso. Ao mesmo tempo em que eu lia o Idiota por meus próprios olhos, no silêncio e sozinha em casa, também o lia pelos olhos de meus colegas, e devo admitir, foi a melhor versão desta leitura.
As questões principais de cada parte do livro foram discutidas sempre com bastante fervor e me traziam inúmeras reflexões sobre um período em particular pelo qual tenho me debatido constantemente. A empatia, o respeito e a compaixão, me pareceram temas recorrentes, e muito tenho lamentado a falta dessas características em nossa sociedade. Discutimos muito se o príncipe era realmente um Idiota. Era mesmo empatia? Ou se tratava apenar de um “probleminha” ocasionado por sua doença? Será por se deixar tanto envolver com os demais personagens do livro e vice-versa? Como uma pessoa pode ser assim tão boa? Ele julga mas não condena? Ele vê o sofrimento dos outros por isso consegue entender seus comportamentos por vezes inaceitáveis? Ele é ou não é um idiota? Como se deixar envolver dessa maneira com aqueles tipos de pessoas? Como e porque as pessoas também se envolviam tanto por ele?
Pudera eu conviver com mais Idiotas assim. Conforme vocês liam para mim este livro mais eu tinha certeza de que o príncipe tratava-se de uma pessoa segura de si, de seus valores, que sabia respeitar o seu limite e o do próximo. Um ser humano, não inocente, mas apenas um ser humano, como talvez devêssemos ser, humildes e capazes de se colocar no lugar do outro, não a ponto de sofrer o que o outro sofreu, mas capaz de, quem sabe, poder compreender suas atitudes, suas falas, seu comportamento, mesmo que talvez essas atitudes nos pareçam erradas e prejudiciais.
Tomar conhecimento deste livro por essa dimensão me fez perceber o quanto nossa sociedade está precária de pessoas assim e o quanto isso tem me incomodado. O quanto os valores têm se perdido e como é difícil se ver numa população que cada vez mais implora por pessoas totalmente contrárias ao que deveria ser conhecido como humano. Por vezes me sinto como o próprio príncipe, deslocado. Os momentos vividos em todos os encontros foi uma verdadeira válvula de escape para poder, mesmo que em um aparente silêncio, ouvir e refletir sobre essas questões que profundamente tem me atormentado e tão pouco tenho tido espaço para discuti-las.