Escola Paulista de Medicina
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História do LabHum

O LabHum surgiu na UNIFESP, Campus São Paulo, em 2003, não como um projeto imposto, mas sim de uma demanda dos próprios alunos do curso de medicina. Estes, ao final de uma disciplina, ministrada pelo Prof. Dr. Dante Marcello Claramonte Gallian, pediram ao mesmo para continuar realizando encontros com atividades semelhantes ás realizadas em aula. Isto aceito, o grupo passou a se encontrar semanalmente. A atividade se desenvolveu, a ponto de se tornar curso de extensão e atividade de pesquisa, posteriormente disciplina eletiva da graduação e da pós-graduação, sem no entanto perder suas características iniciais, especialmente a espontaneidade e o acolhimento.

Satisfação e crescimento pessoal parecem estar juntos na experiência do LabHum, e chama a atenção a importância que os participantes atribuem a esta atividade, levando-a muito a sério. Mesmo com a recente transformação em disciplina, vemos que os participantes chamados informalmente de “livres” não ficam a dever em atenção e dedicação aos que buscam créditos acadêmicos.

História do LabHum

Sendo desenvolvido desde 2003, o Laboratório de Humanidades, ou LabHum, é um grupo que se reúne semanalmente para discutir a leitura de textos, geralmente clássicos da literatura. É uma atividade de ensino extracurricular, nascido dentro do curso de medicina, como uma espécie de continuação das discussões originadas em sala de aula, na disciplina eletiva História da Medicina. Surgiu como iniciativa dos alunos e ganhou proporções maiores. Começou com os textos históricos da área médica, passando pelos da filosofia, chegando aos clássicos da literatura. Hoje participam do grupo alunos da graduação, da pós-graduação, funcionários, docentes, profissionais da saúde ligados à instituição e até de fora desta.

O grupo foi fundado e é coordenado pelo diretor do Centro de História e Filosofia da Saúde (CeHFi), Prof. Dr. Dante Marcello Claramonte Gallian juntamente com o Prof. Dr. Rafael Ruiz, que se incorporou ao LabHum logo em seu início. Diante disso, consideramos oportuno realizar uma entrevista dentro da abordagem da História Oral de Vida (nossa metodologia preferencial nesta pesquisa, que será detalhada mais adiante) com um de seus coordenadores para não apenas conhecer melhor a história do LabHum, como também para avaliar o seu impacto no seu participante mais antigo e assíduo, ou seja, o próprio coordenador. Portanto o “colaborador” Dante Gallian aqui assume dois papéis, o de coordenador, o lado “oficial”, e o de participante. No entanto estes papéis não podem ser entendidos realmente em separado. Assim o próprio LabHum se confunde com a sua pessoa em muitos momentos, é difícil achar a separação entre criador e criatura, já que a história do LabHum é consequência da história de vida de seus coordenadores, Prof. Dante e Prof. Rafael Ruiz, apesar da influência também do grupo como um todo. Nesta análise buscaremos perceber sua visão sobre o impacto do LabHum em sua vida e na de outras pessoas.

Ao começar a lecionar na UNIFESP, em 2000, Dante introduz nas aulas obras não convencionais, componentes das humanidades. Essa ação é consequência da sua própria formação, humana e heterogênea. Logo ele percebeu que essa estratégia causava um forte impacto nos alunos, assim desde o início o objetivo do LabHum é fomentar isso. Outra constatação foi um forte impacto em si mesmo pois, segundo ele, os clássicos da literatura têm um enorme poder de abrir a pessoa para o mundo, intelectual e afetivamente, e transformá-la. Partindo da hipótese de que estes acontecimentos são concretos, surgiu a ideia de iniciar este projeto.

Para ele o sucesso do LabHum é dar espaço para acontecer, permitir a experiência preconizada por Larrosa (2002). Isso é o que norteia o desenvolvimento da metodologia do grupo, que segue informal e livre, até certo ponto, pois com o tempo o LabHum se estrutura metodologicamente. O coração fala alto, mas a cabeça também. Esse espaço de convivência, mediada pelo respeito mútuo, permite que surjam questões humanas essenciais, e o compartilhamento disso é a novidade. E as novidades são constantes por ser um grupo de discussões abertas e francas.

Para Dante a prática do LabHum mostrou um caminho para a humanização em saúde, que normalmente é uma ideia abstrata a ser implantada, mas aqui é uma prática concreta e experimentada: “a humanização, para mim, é necessariamente um processo de transformação da própria pessoa, e vejo claramente que essa experiência das humanidades como fator provocante, de forma particular da literatura, é um meio de humanização incomparável”. Essa ideia concreta do que é a humanização surge no laboratório, e precisa ser analisada, registrada e expandida. Ainda segundo Gallian a discussão sobre a desumanização está presente em todas as áreas, mas é na saúde que se destaca, pois o humano é um fator muito forte nessas atividades, é inevitável e evidente, pois se lida diretamente com as pessoas, e em situações extremas de dor e sofrimento, e até morte. Assim também na ciência de um modo geral a discussão é avançada, pois foi justamente aí que a desumanização começou, e a saúde se tornou extremamente “cientificada”, com um grande avanço técnico sendo uma marca evidente (GALLIAN, 2001).

O LabHum não é um programa, não é um sistema, e não deve ser. Se encaixa na educação continuada, de certa forma, mas não pretende ser isto, pois não tem um término, ou um fim específico, e o impacto em cada pessoa é imprevisível e de difícil mensuração. Mas o LabHum alimenta de experiências outras atividades acadêmicas desenvolvidas pelos coordenadores, pois como laboratório permite experiências sem o medo do erro, que depois podem ser reaplicadas em cursos curriculares. Da mesmo forma há um fluxo de ideias bem variado, com a participação de pessoas de áreas diferentes da saúde, que levam e trazem, enriquecendo o LabHum, por um lado, e outras atividades, por outro.

Para Dante o LabHum se tornou uma atividade prioritária, não apenas por ser uma obrigação, mas sobretudo por fazer parte e ser essencial em sua rotina acadêmica, profissional e pessoal. Ao ler a sua entrevista podemos perceber como o LabHum lhe é caro, e conhecer pormenores da história do LabHum.

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