Eu parei, meditei e andei como a muitos anos não fazia, com calma, observando, me permitindo olhar por mais de dois segundos e principalmente fotografar (com uma câmera no meio da rua, ainda por cima!).
[* Aluna da disciplina eletiva Laboratório do Olhar]
Eu desenho desde que me lembro de existir.... então, a eletiva do Laboratório do Olhar me deu uma “desculpa” para fazer algo que ao longo dos anos venho matando: o simples ato de contemplar.
É comum que algo me chame atenção na rua. Gosto de texturas, de folhas coloridas ou sozinhas contra o asfalto, da simplicidade de um raio de sol posicionado lindamente entre os galhos, passando por janelas, criando arco-íris na água ensaboada de alguma calçada lavada... Contudo, ao longo dos anos essa apreciação foi ficando mais rara. Um momento roubado e sem significância perante o resto.
O andar passou de rápido pelo chamado da mãe e o medo de ficar perdida na rua para o marchar obstinado pelo medo da violência urbana. Os pensamentos foram borrando a paisagem, distraídos pelos stress... e caso eu precise de inspiração para uma arte nova é mais fácil recorrer ao Pinterest do que à uma memória de um flash passageiro de percepção.
Eu havia me contentado. De vez em quando as imagens do gesso do teto do quarto me chamavam a atenção, uma copa de árvore vista por de trás da segurança da janela fechada do carro... pequenos momentos que meu cérebro roubava em meio a pressa do dia a dia.
Todavia, a eletiva me proporcionou a possibilidade de “calar”, mesmo que momentaneamente, todas as correrias e medos que ressoam em minha cabeça pela rua. Eu nem sequer precisava confiar na minha memória visual, que apesar de muito boa, não é suficiente. Eu parei, meditei e andei como a muitos anos não fazia, com calma, observando, me permitindo olhar por mais de dois segundos e principalmente fotografar (com uma câmera no meio da rua, ainda por cima!).
Sou da época ainda da máquina de filme. As fotos eram contadas. Ai de mim se quisesse tirar foto das formigas levando folhas pelo muro... A eletiva exercitou esse “desprendimento" e a liberdade ainda compartilhada de fazê-lo com outras pessoas, tirando fotos que para os outros transeuntes não fazem sentido, mas expostas são lindas, provocativas e únicas por partirem do olhar e somente o Olhar de cada um.
Sendo assim, a única coisa que tenho a dizer é Obrigada. Essa foi uma experiência que vou levar para o resto da vida e lembrar com carinho todas as vezes que me permitir desacelerar, mesmo que um pouquinho, o passo para contemplar algo que me chamar a atenção. Afinal, cheguei à conclusão que cansei de escolher ser como o vento não quero somente passar, mas sim ver o que o mundo tem a oferecer aos meus olhos...