Escola Paulista de Medicina
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Para não esquecer os laços de afeto - por Fernanda Marques da Cunha

 

"Ler os livros deste semestre foi prazeroso e enriquecedor. Discuti-los no LabHum foi revolucionário."

 

Para não esquecer os laços de afeto (Relato de conclusão de participante do LabHum)

por Fernanda Marques da Cunha

Com "A morte de Ivan Ilitch" as coisas se passaram diferentemente. A primeira leitura não provocou grandes reações. Houve sim um certo desconforto durante a leitura e uma certa comoção nas páginas finais, mas nada muito intenso. Muito provavelmente não entendi o que deveria entender. Especialmente, fiquei sem entender o que é que Ivan descobriu e que permitiu que ele enfim morresse.

No primeiro itinerário de discussão, a Maria Silvia por diversas vezes falou da vida agradável e decente que Ivan insistia em viver, dos laços de afeto sacrificados por ele em nome desta vida agradável. Dias depois cheguei ao fim da segunda leitura do livro. Ajudada pelas discussões e pela releitura, entendi o que foi que Ivan descobriu, ou pelo menos acho que entendi algo: a importância dos laços de afeto. E então chorei. Chorei pelo Ivan e por mim também. Identifiquei comportamentos meus parecidos com os do Ivan, chorei de medo de terminar como o Ivan, que só se deu conta momentos antes de morrer o que é que realmente importa em uma vida, o que lhe dá consistência, sentido e consequentemente, o que nos permite morrer em paz. São os laços de afeto que cultivamos ao longo da vida.
Hoje, mais do que na época em que o livro foi escrito, é fácil descuidar dos laços de afeto. Afinal de contas, eles dão trabalho, consomem tempo, não são sempre agradáveis e certamente não são práticos. Em uma sociedade na qual desconforto e inquietação são necessariamente doenças, e que exige de nós desempenho e produtividade cada vez maiores, é praticamente impossível não deixar os laços de afeto num canto sem água, sem comida e sem atenção, à espera do dia em que enfim tenhamos disponibilidade e vontade para fazê-los viver. Esquecemos que são eles que nos fazem viver. E assim a vida passa, com nossos olhos enterrados em nossos umbigos até o dia em que um acontecimento, alguém ou a própria morte venha levantar nosso olhar.
Sou muito grata ao LabHum e ao livro por me ter feito levantar o olhar antes que fosse tarde demais.

Ler os livros deste semestre foi prazeroso e enriquecedor. Discuti-los no LabHum foi revolucionário.

Fernanda

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