Relato de experiência Labhum - 1° semestre 2023
Ciclo: O Espelho da Memória: compreendendo o humano através de Machado de Assis
Textos: O Espelho / Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
A escolha da disciplina foi motivada principalmente pelo interesse literário, mas quando me deparei com o autor e obra que seriam estudados a intenção só aumentou. Ao realizar a inscrição no site da pós-graduação era necessário colocar uma justificativa, num primeiro momento me perguntei como justificar que um neurologista, com uma dissertação sobre Doença de Alzheimer, gostaria de cursar uma disciplina que não envolvesse exatamente a área de atuação na pós-graduação. Logo me veio a justificativa, Machado de Assis é um autor com uma rara habilidade de dissecar o comportamento humano, o que certamente seria feito nos textos e por fim teria o conteúdo relacionado à neurologia e aos meus estudos em comportamento.
Num primeiro momento, por uma certa timidez, sempre fico tenso em novos grupos e entre pessoas desconhecidas. De alguma maneira, uma pequena tensão permaneceu até as últimas reuniões, mas por motivos necessariamente meus e não relacionados ao grupo e tutores da disciplina, que foram extremamente acolhedores e gentis.
As discussões sobre as obras “O Espelho” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foram um exercício pleno e constante de saber ouvir, refletir sobre a opinião do colega e consequentemente pensar por meio de outra perspectiva. Cada encontro me fazia entender que podem existir inúmeras verdades e mesmo assim nenhuma delas ser exatamente precisa, o autor tinha a capacidade de nos deixar vagando na imprecisão sutilmente construída no texto.
Diante de repetidas falas ditas nas reuniões, uma delas acabou me chamando a atenção, “o que o livro leu em você?”. Pensei nisso durante alguns encontros, até me dar conta de que uma característica do personagem principal, Brás Cubas, me incomodou, portanto devia ter algo ali. A superficialidade vivida pelo defunto-autor durante sua história serviu como um alerta para refletir sobre a superficialidade nas relações e ambientes que no momento a vida me implica. E por mais que eu esteja alerta e saiba da transitoriedade da situação, o personagem dá mais um recado: ninguém, além dele, será capaz de ser um defunto-autor para contar a história da própria vida, seja de maneira sincera ou romanceando aquilo que se arrependeu não ter vivido. Portanto, mesmo que transitório, o recado para mim é não deixar se apegar a superficialidade.
Foi uma experiência nova, enriquecedora, de certa forma desafiadora por fazer mudar o foco do mecanicismo do cotidiano. Ao final, terapêutica, por ser uma experiência que trouxe à consciência uma reflexão importante. Pretendo repetir.
Gustavo Melo de Andrade Lima 18/06/2023