Participei do último Laboratório de Humanidades, iniciado a partirdo mês de Abril deste ano e acredito que tive uma grande experiência dereflexão e transformação nas últimas semanas.
Trabalhamos dois textos de Machado de Assis, O Espelho e Memórias Póstumas de Brás Cubas. A princípio tive bastante dificuldade emcompreender qual a intenção do autor ao escrever o espelho. As palavrasme pareceram mais difíceis, o texto muito complexo e de alguma forma otexto não fluía.
A partir do segundo encontro do LABHUM, ouvindo as experiênciasde leitura e assistindo todo o compartilhamento de reflexões epensamentos que traziam a história do texto para o nosso cotidiano, eupassei a mudar a forma de interpretação daquele conto.
Através do trabalho e discussões em grupo que fizemos, quandoretomei a leitura do texto consegui me identificar e trazer alguns pontos dereflexão para o meu dia a dia.
Nos últimos meses passei por algumas transformações pessoais eprofissionais, e me vi nesse momento refletindo sobre muitas questõesque tenho trabalhado em terapia e outras que talvez passem maisdespercebidas.
Eu venho de uma fase em que me dediquei ao extremo no meuprofissional. Em grande parte isso aconteceu devido a relacionamentosexternos em que não me sentia completa. Buscava o reconhecimento esatisfação no trabalho e na construção da trajetória profissional. Ao finalizaresse ciclo, percebi que me doava mais do que gostaria ao ambiente detrabalho.
Iniciei uma fase de transição e ainda estou encontrando o equilíbrioentre o meu lado profissional e pessoal, encontrando o espaço pro lazer etempo de qualidade comigo mesma. Nessa transição, me identifiqueimuito com o conto do espelho. Principalmente no momento em que eletem dificuldade de se enxergar sem as vestes do seu profissional.
Como comentei no último encontro, tenho tentado encontrar osentido de viver um dia de cada vez, sem a sensação de “esperar o fim desemana”. Dessa vez, me identifiquei cada vez mais com a escrita e históriade Brás Cubas e confesso que em alguns momentos achei aterrorizante.
Pra mim a ideia de encontrar sentido nas pequenas ações e viver osbons momentos diariamente é muito mais fácil na teoria, do que naprática.
Acredito que o grupo do LABHUM me ajudou a construir a linha deraciocínio que eu precisava nesse momento. O conflito de opiniões, aexpressão de sentimentos e reflexões sobre o livro e em questões daatualidade me trouxeram um novo panorama sobre mim e sobre asrelações que formo com os ambientes e pessoas que me cercam.
Além de todo o lado pessoal, é possível perceber e comparar muitasações atuais da nossa sociedade, com as daquela sociedade representadano conto do espelho e de Brás Cubas.
Temas como machismo, racismo, feminismo estão contemplados deforma sutil nas histórias - ainda que muitos não tivessem sua definiçãopropriamente dita naquela época - e nos faz ser possível analisar a históriasobre a ótica atual.
Acho que qualquer ambiente que possibilite a discussão de temastão importantes e atuais, com a possibilidade de expressar eprincipalmente ouvir diferentes opiniões, tem extrema valiosidade pra nós.O ato de ouvir integralmente o outro, com atenção, consideração e respeitotraz sempre um dos maiores aprendizados que podemos ter.
Senti uma maior identificação com o personagem do alferes do quecom Brás Cubas, apesar das duas obras relacionarem muito do que tenhorefletido. Acredito que a minha relação com Brás Cubas, neste caso, é maisuma relação de temor por não querer me tornar igual ou não quererchegar ao fim da vida com tantos arrependimentos e mediocridade.
Por fim, gostaria de agradecer imensamente a todos os integrantesdo grupo do LABHUM pela maravilhosa experiência, ao Yuri e a Ana peloespaço oferecido (e pelas indicações de novas leituras!). Não é à toa que ogrupo existe há tanto tempo e faz um sucesso enorme entre osparticipantes, que voltam inúmeras vezes. Com certeza tenho a intençãode participar das novas turmas e continuar aprendendo tanto nessemomento que foi pra mim sim, uma terapia.
Deixo aqui a letra de uma música do Tim Bernardes que se tornouespecial pra mim nos últimos meses e acho que reflete bem os diferentespensamentos que me passaram durante as leituras dos textos:
Nascer
Nascer outra vez bem no meio da vida
De fato acordar e enxergar cada dia
As coisas existem com força e magia
E eu sou a consciência da coisa que eu sou
Eu quero e eu amo e eu posso e eu vou
Viver
Na realidade que é onde é possível
Às vezes sem nem perceber que está vivo
Às vezes na barra, às vezes na boa
No mundo, na mente, no sonho e no ser
No raro momento infinito viver
Morrer
Que a ausência é a presença do inexistente
Do silêncio com seu volume gigante
Limite pra além do azar e da sorte
Que prova existir vida antes da morte
Que une e separa o todo da parte
Nascer
Viver
Morrer
Nascer
Um grande abraço a todos e enfim um: até breve!
Relato de experiência LABHUM
Morgana de Menezes Maia
(Foto: Yuri Bittar - CeHFi-UNIFESP)