O laboratório de humanidades foi uma experiência que não esperava vivenciar na Faculdade de Medicina e me surpreendeu muito positivamente no decorrer dessas semanas de encontros. De modo geral, gostei muito das reflexões e discussões que foram levantadas na maior parte deles. Permitiram que as diferentes formas de ler e experienciar a jornada pelo livro de Mary Shelley ganhassem vida por várias visões, que se relacionaram com a forma individual de cada pessoa refletir e julgar os diversos acontecimentos no decorrer da história. Visões estas que dialogam com o modo singular de cada indivíduo encarar o mundo, suas concepções e suas experiências de vida prévias.
Particularmente, gostei muito das conversas que tocavam no tópico das análises das personagens – suas angústias, concepções, hipocrisias e contradições –. Estes fatores parecem se relacionar a aspectos intrínsecos à natureza humana e, mesmo um livro escrito séculos atrás, ilustra de forma deslumbrante as diferentes facetas que o ser humano apresenta invariavelmente com o passar do tempo. Tal experiência é enriquecedora na medida em que dialoga com cada um de nós em nossos próprios conflitos, incertezas e modos de encarar a vida, melhorando-nos não só como profissionais, mas também como seres humanos.
De modo geral, acredito que a experiência com as reuniões foi bastante terapêutica. Em um cotidiano permeado por compromissos, prazos e metas, o laboratório e a leitura se apresentaram como um refúgio a tudo isso, proporcionando uma fuga da realidade que nos leva para um mundo criado pela jovem Mary Shelley de 19 anos em sua ficção pessoal.
Quanto a isso, achei muito interessante a parte do livro em que Victor, no meio de sua jornada, encontra nos sonhos um refúgio para o todo o pesadelo que vivia na sua jornada à procura de Frankenstein. Acredito que esse aspecto de fuga da realidade seja por si só despertador, possibilitando a libertação de novas reflexões e idéias que antes estavam escondidas e enterradas pelo cotidiano.
Agradeço bastante pelos encontros aos professores Dante Gallian e Yuri Bittar, foi uma experiência muito boa e renovadora! Finalizando, citei um trecho do prefácio do livro escrito pela própria Mary Shelley que dialoga com tudo isso.
(prefácio, página 8) Eu tinha, porém, um prazer ainda maior que este, ou seja, construção de castelos no ar — permitindo-me sonhar acordada — a que se seguia uma corrente de pensamentos que tinha por objetivo a formação de uma sucessão de incidentes imaginários. Meus sonhos eram ao mesmo tempo mais fantásticos e agradáveis do que meus escritos. Nesses últimos, eu tinha muito de imitadora — fazendo mais o que os outros já tinham feito do que realizando as sugestões de minha própria mente. O que escrevia se destinava pelo menos a mais alguém — o companheiro e amigo de minha infância; meus sonhos, porém, eram só para mim; a ninguém os revelava, eram meu refúgio quando eu estava aborrecida — meus mais caros prazeres quando me achava livre.
Autor: Gabriel Junior Takita Pires
Aluno de graduação (medicina), participante do LabHum Eletiva (Livro, Frankstein de Mary Sheley)
Texto apresentado como Relato de conclusão
Nov/2022
[Ilustração: Yuri Bittar (CeHFi) cena do filme ‘Frankenstein’, de James Whale, 1931 e página do Medicine: An Illustrated History, Lyons and Petrucelli]