Escola Paulista de Medicina
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A Balada de Adam Henry - por Bárbara David Galvani

a baladaOs encontros no laboratório de humanidades foram uma feliz surpresa, com a presença das alunas/participantes e dos professores Rafael e Yuri. A escolha do livro me surpreendeu, mergulhei num livro sobre ética, sendo um tema que eu não acreditaria que me prenderia se me falassem sobre o que tratava. Acredito que o que me prendeu nesse livro foi a tratativa sobre o tema ética diante da vida pessoal da Fiona, momento ainda que a mesma estava passando por turbulências pessoais, e sempre profissionais, sendo a mesma juíza na Vara da Família.

A dinâmica das aulas me chamou imediatamente a atenção, isto porque na minha opinião, não há nada mais humano e inclusive pertinente pensando numa matéria chamada Laboratório de Humanidades, discutirmos o tema numa roda, onde todos possam se enxergar e debater o livro incluindo suas experiências pessoais, muitas delas no âmbito profissional, mas inclusive no âmbito pessoal e social. Acredito que ser uma matéria presencial deu um toque especial para nós que estamos há anos numa pandemia, onde a tela tornou nossa realidade virtual.

Falando mais sobre o livro em si, me identifiquei com a Fiona e com o Alan, ambos seres humanos potentes que claramente se identificaram no livro. Meu olhar sobre os personagens se modificaram com cada encontro, porém anotei minhas percepções em cada aula para inclusive acompanhar meu próprio processo que antecedeu as discussões e que precederam as nossas falas.

No nosso primeiro debate sobre o livro, identifiquei os médicos representando a ciência, os pais do Alan o lado místico, enquanto a juíza o lado humano, não o humano perfeito como muitas vezes levamos a humanização, mas sim com todas as suas confusões, emoções, vergonha, medo e prazeres, a qual ainda por cima era uma juíza, profissão em que se espera a neutralidade. Após as nossas discussões, compreendi um pouco mais o papel do juiz, e cheguei à conclusão que é quase impossível neutralizar por completo o ser humano. Talvez essa fosse a intenção do livro? Não sei. Durante o início da discussão, percebi um movimento, inclusive social, de culpabilização da mulher, sendo o foco da vez a Fiona. A mulher que não deu conta do seu trabalho, não deu conta do seu casamento, não se deu conta da relação que estabeleceu com Alan, uma mulher com suas fragilidades, medos e inseguranças expostas no livro. Ao mesmo tempo que a víamos com toda essa profundidade, o livro demonstra como a mesma se demonstrava para as outras pessoas, como juíza, sendo totalmente o oposto do descrito. Vimos mulheres culpabilizando mulheres, mas isso não é novidade no campo social.

O interessante, é que muitas pessoas aprofundaram o olhar através das discussões, problematizando ainda mais a posição da Fiona, ao invés de culpabilizá-la. Ao mesmo tempo em que as pessoas que se identificavam, sendo eu mesma incluída, também escutavam o ponto de vista contrário. Este movimento de apontar contradições foi cada vez mais comum no grupo, um movimento que pensando agora é interessante! Pois tal característica foi se estendendo, sem grandes desentendimentos até o final do grupo, nos desafiando cada vez mais no desafio de compreender os personagens e a nós mesmos.

Acredito que o laboratório de humanidades está se saindo bem em problematizar nosso cotidiano na área da saúde, tendo em vista que estavam presentes diversos profissionais, como psicólogos, médicos, enfermeiros e etc. Seria interessante levar essa abordagem no campo da saúde para que tal instrumento fosse compartilhado com outros profissionais da saúde.

No nosso último encontro, inclusive apontei sobre a potência que os grupos proporcionam e minha pessoal experiência em me decepcionar como psicóloga, quando busquei implantar a dinâmica grupal no hospital, sendo barrada a proposta inclusive por quem me incentivou a implementar, visto os interesses da gestão do hospital. Porém, assim como citou o Yuri, essas trocas possibilitam criarmos sementinhas que um dia podem transformar essas instituições, não é mesmo? Assim prefiro pensar, para prosseguir com os meus os ideais e desejos no âmbito da saúde coletiva.

por Bárbara David Galvani
Laboratório de Humanidades, 2022/2

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