"E a vida é assim mesmo, o princípio é simples, só fica difícil quando queremos entender. Esse é o erro dos coitados dos ridículos. O da história, em particular, precisou de um confronto com a realidade, a menina pedindo ajuda, e de um sonho epifânico a beira do suicídio para conseguir ver um sentido e decidir querer viver."
Ler O Sonho de um Homem Ridículo, de Dostoiévski, foi uma experiência muito reflexiva. Eu lia dois parágrafos e parava. E olha que o texto tem 23 páginas, então era muita reflexão concentrada. As reflexões em sua maioria eram bem existencialistas. Do tipo: a vida tem sentido mesmo? Que desagradável esse negócio de viver. Quem foi que inventou isso? Pode ser meio pra baixo, mas o texto é sobre um homem que decide se matar, então até que tá coerente.
Bom, já fui para os encontros pensando em uma sessão de terapia. Afinal, da última vez que eu participei do laboratório de humanidades foi meio isso, bem terapêutico. A minha surpresa foi perceber que nem todo mundo ficou tão existencialista e na verdade reparou mais nos detalhes mais otimistas do texto, como a menina de rua que muda a vida do nosso ridículo e o começo do sonho que ele teve, que mostra uma sociedade pueril e essencialmente boa. Uma coisa que foi bem comentada nas discussões foi essa presença de dualismos. Coração e razão, vida e morte, bem e mal.
E acho que a mágica do texto é que esses opostos são colocados de maneira bem yin e yang, sempre conectados. Um nasce do fim do outro. E a vida é assim mesmo, o princípio é simples, só fica difícil quando queremos entender. Esse é o erro dos coitados dos ridículos. O da história, em particular, precisou de um confronto com a realidade, a menina pedindo ajuda, e de um sonho epifânico a beira do suicídio para conseguir ver um sentido e decidir querer viver.
Perceber que a sociedade tem potencial pra ser boa e ruim, mas não é inexoravelmente ruim, que foi o que entendi do sonho dele, é algo que esqueço às vezes e é realmente sempre bom lembrar. Buscar a bondade na humanidade é um bom sentido para se ter, uma vez que independente de religião é uma postura que dificilmente pode levar a consequências ruins. É como tentar ver o copo da vida meio cheio. No fim das contas, você pode acreditar no que você quiser, mas ninguém realmente sabe como viver do jeito certo, ou porque vivemos. O que sabemos é que vivemos, querendo ou não, e não adianta questionar isso. Melhor fazer o que você pode para viver da maneira mais agradável possível. Em outras palavras, se você está vivo, aceita que dói menos.
Relato de Leitura – O sonho de um homem ridículo
Maria Dino