Escrito por Yuri Bittar, monitor do LabHum
28 DE OUTUBRO DE 2009 (republicado em 2019)
Estou lendo este clássico da literatura brasileira, que incrívelmente ainda não tinha lido. E agora entendo porque de sua importância. Ainda não o terminei, mas me parece haver uma importante reflexão sobre as amarras que nos impedem de ser honestos, até com nós mesmo.
Esse é o livro da vez no Laboratório de Humanidades (UNIFESP). Conforme eu for lendo e participando das discussões no LabHum, vou postando aqui minhas (e do grupo) reflexões sobre o livro.
Uma outra frase surgiu no laboratório; "só um morto pode entender a vida?" Brás Cubas fala com total sinceridade sobre sua vida. Confessa coisas que dificilmente alguém falaria. O morto, além de poder falar a verdade pois nada teme, ainda tem a visão de fora necessária para poder compreender a própria vida.
Como Dostoievski , Machado de Assis faz um exercício para simular a honestidade. O Idiota é sincero assim como Brás Cubas. Eles rompem com o comum (será tão incomum ser honesto?). Brás Cubas não se limita ao “politicamente correto”. Num momento ele não se conforma de uma bela moça ser coxa. “se bela por que coxa, se coxa por que bela?” Como disse o Prof. Rafael, ele não usa a “mentira estabelecida” ao falar o que realmente pensa.
Brás Cubas nos coloca diante do vortex da vida. Da questão primordial do sentido da vida, de por que somos movidos, de como justificamos nossa existência. Se a vida é um circulo ou uma expiral, uma realidade sem saída ou um vortex incontrolável. Afinal, por que se importar com os outros ? A consciência é apenas o medo de pessoas medíocres ? Ele propõe também a idéia de decidir não ter filhos, e confessa ter tido uma vida sem grandes motivações.
Machado escreve com enorme leveza e toques de humor, mas fala de questões delicadas e profundas, e deixa abertas feridas sociais, expõe os dogmas morais e os questiona.
Essa leitura tem provocado acaloradas e profundas discussões no grupo. Creio que desde que participo, há mais de um ano, esse foi o livro que mais nos tocou.
Link para o livro no Domínio Público: www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1923
Link para áudio book: http://www.bibvirt.futuro.usp.br/content/view/full/1947
Yuri Bittar
Designer, fotógrafo e Historiador