Relatório Final do Ciclo de Encontros e Discussões sobre Humanização em Saúde do Laboratório de Humanidades
Ao ir ao primeiro dia de reunião do curso do Laboratório de Humanidades, não imaginava a experiência que estava começando a vivenciar.
No princípio, demorei a me acostumar com o esquema do curso, pois fui esperando algo parecido com uma aula e me surpreendi ao começar a entender que funcionava mais como reunião de um grupo de pessoas interessadas em relacionar fatos de livros com experiências pessoais vividas.
Muitas vezes as reuniões começavam com um determinado tópico para iniciar a discussão e de repente, como em uma conversa mesmo, a discussão tomava um rumo totalmente diferente da inicialmente proposta. Os assuntos iam se emendando, se enovelando e se ficássemos cinco horas, dez, enfim, quantas horas fossem, as considerações a serem feitas seriam inesgotáveis. Em relação a isso, sempre gostei de ficar por horas conversando, filosofando sobre a vida com amigos e de repente parávamos e ficávamos tentando lembrar como os assuntos tinham se conectado, como a conversa tinha começado. E, sempre, o caminho inverso era muito difícil de obter porque às vezes no meio de uma conversa, uma simples palavra, até um gesto da outra pessoa te remete a pensar em outra coisa e mudar o rumo da conversa. Da mesma maneira que às vezes uma simples frase lida no livro desperta a consciência de algum fato antigo ou de situações vividas todos os dias, das quais muitas vezes não nos damos conta. É como um clique que desperta na mente alguma coisa, algum pensamento que rendiam horas de reflexão.
Apesar de sempre ser dito que o curso não era terapia, para mim e para muitas pessoas do grupo, aquele horário na sexta-feira funcionava sim como uma espécie de terapia, um horário na minha semana para pensar e refletir sobre a vida. As pessoas se sentiam à vontade para expor, comentar, revelar situações de suas vidas que eram trazidas à tona, relembradas, despertadas pela leitura do livro.
Durante a leitura do primeiro livro (“Divina Comédia” de Dante Alighieri) admito que não me envolvi muito, pois não foi uma leitura agradável para mim. Mesmo assim, as reflexões que as pessoas expuseram me proporcionaram grande aprendizado e reflexão também. Já no segundo livro lido (“Alice através do espelho”) me envolvi mais ainda com as experiências de leitura das pessoas do grupo e pude desenvolver as minhas próprias experiências de leitura. Apesar de não ter exposto minhas opiniões, minha visão, pude analisar, absorver e aprender, muito com o que todos expunham, somado com o que já havia refletido sobre minhas próprias experiências.
Muitos assuntos discutidos e muitas linhas de raciocínio propostas me renderam muita análise das situações do meu dia-a-dia. Cada reunião me fazia pensar mais e mais em coisas corriqueiras que nem nos damos conta, principalmente devido à correria do cotidiano. Situações simples, pelas quais passamos sem percebê-las de verdade, sem aproveitá-las começaram a parecer bem evidentes.
Em muitas reuniões, tocamos em assuntos delicados, houve muita emoção e, principalmente nesses dias, minha reflexão sobre a vida no âmbito pessoal e profissional era mais intensa.
Pelo que posso afirmar sobre mim, saí muitos dias da reunião me sentindo renovada, com uma nova visão do mundo, das pessoas, das situações. Como se antes houvesse uma venda sobre meus olhos que não me permitia enxergar direito e de repente ela era arrancada e pequenas, simples atitudes pareciam não fazer mais sentido e outras de repente passavam a fazer sentido.
Definitivamente foi uma experiência muito interessante, proveitosa e que espero repetir nos próximos semestre e a qual irei recomendar a todos que puder. Acredito que se todos tivessem pelo menos essas poucas horas na semana para parar tudo, se desligar do mundo, da correria e pensar, compartilhar situações e principalmente ouvir as opiniões dos outros, muitas atitudes seriam mudadas, pois as pessoas seriam sensibilizadas, suas consciências seriam despertadas e suas vendas, arrancadas.