Escola Paulista de Medicina
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Ecos do LabHum - por Milene Alves

Ecos do LabHum : A Divina Comédia / Espelho de Alice

Por Milene Alves

Entender a literatura através do laboratório foi um desafio no começo. Mas aos poucos a leitura é remetida a outra esfera. Nós mesmos. Conceitos, melhor deixá-los na porta, livrando-se da perfeição que só faz estragos.

É! A experiência interpelativa aproxima emoções. Tarefa nada fácil, que depende de algo cada vez mais raro, ouvir.

 

O inferno nos habita, viver é sentir dor. Para conviver com o outro, é preciso rever verdades e isso irá tocar os egos, mexer com as vaidades, complexidades do novo, como o chocalho de TWEEDLE DEE e TWEEDLE DUM (gêmeos). O que fazemos, brigamos? Ponderamos? Remoemos? A lista de interrogações será infinita, repetitiva e infernal.

Na passagem de Dante as misérias humanas falam por si, nas escolhas, consequências e o tal do livre arbítrio. Ele reescreve sua história com sutileza e na essência de um homem virtuoso. Virgilio é uma presença real, desfaz indagações com sua coragem, ele é o que é. Faz o que tem de ser feito.

Uma revolução ocorreu na minha cabeça com a Divina Comédia, me comoveu como poesia sobrepondo-se ao caos como a flor de lótus no lodo. Foi um mergulho no desconhecido, mas quem quer isso?

A caminhada de Dante e Virgilio sempre será um diálogo interior, longo e árduo. Ali a poesia se molda, acalma e permite entender o quanto cada momento tem expressão e significados. Há medida para a razão, mas não há para a sensibilidade.

A sonoridade das rimas nos tercetos transcendem como mantras, experimentem recitá-los em voz alta. A música está nas entrelinhas, aos meus ouvidos se traduziu no solo de um violoncelo, melódico, dolorido, sem falsificações.

O LabHum é uma experiência atemporal. Os clássicos estão nas estantes empoeirando, mas esperando para nos salvar, nos confrontar, rir de nossas intolerâncias, acolhendo nossa individualidade. Afirmando o quanto é possível ultrapassar a tendência em só sentir as próprias dores, observando o mundo pelo buraco de um canudinho.

Nos liberta para distinguirmos, sobre direito de questionar e o dever de nos comprometer, entre a capacidade de reconhecer que podemos estar errados e a maioria estar certa... Quanto a certas ideias e valores que nos alienam, repensar atitudes, desdizer o que dissemos. Ser o que somos, humanos.

Andando pelo faz de conta de Alice, entendo que não há matemática ou lógica que racionalize os conflitos.

Qual o valor do “jogo”, vencer ou concluir?

A Impressionante a prosopopéia de Carol, aponta mesquinharias, antecipações no caso a Rainha Branca, que chora a dor antes de ser picada, indo mais longe, há pessoas que choram o antes a vida toda.

Esse espelho quase infantil... As crianças são sobreviventes e detentoras de uma força exemplar, creem e pronto.

Mas olhar no espelho eis o desafio. Lembrar-se do que fui, o que me tornei, perceber que estou aqui, sou simples e mortal, nem melhor nem pior, apenas eu.

Finalizo meu texto com poema de Pablo Neruda, afinal como canta Zeca Baleiro, poesia não tem dono e alegria não tem grife.

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,

Sê um arbusto no vale, mas sê

O melhor arbusto à margem do regato.

Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.

Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva

E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,

Sê apenas uma senda,

Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.

Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...

Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Milene Alves

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