Relatório de Fechamento de Ciclo: A melhor ocasião para se ler Ionesco
Muitos seriam os livros ideais para se ler em um momento histórico como o que vivemos. Mas desde que resolvi sair às ruas e acompanhar mais de perto o movimento, tenho me deparado com o tamanho sentido que fez discutir a obra “O Rinoceronte”, este semestre no LabHum.
Percebi que eu não estaria me sentindo tão fortalecida e segura de minha posição, como tenho me sentido e esse fortalecimento é algo bastante novo. Explico: tenho deparado-me com dezenas, centenas, milhares de ‘rinocerontes’ nas ruas. São assustadores, violentos e amedrontam uns tantos que passam. No entanto, fazem isso de uma maneira diferente. Sua violência não é escancarada e sim velada. Ironicamente, assim como no final da obra de Ionesco, eles cantam “hinos” hamoniosamente, em uníssono.
Onde estavam esses rinocerontes esse tempo todo? Agindo na surdina? Não sei, mas agora, mostram-se aos bandos.
E o coro dos rinocerontes, ao invés de amedrontar (como talvez aconteceria comigo em outros momentos), me remete à obra clássica e me faz refletir. Com isso, começo a perceber, que além de aspectos relacionados à Humanização, o LabHum pode contribuir (através do acirramento da pensamento crítico), para nosso fortalecimento, quando é preciso posicionar-se em momentos como o que vivemos.
Isso porque é impossível sair às ruas, sem se lembrar de Berenger e sua coragem (que também me remete a Diadorim).
Assim como Berenger, faço algo que nunca me imaginei fazendo: converso, dissemino minhas idéias com cada vez mais força, para aqueles que se amedrontam com o extremismo que veem, poderem também pensar de forma mais critica. Como bem pontuado em um dos encontros do LabHum, os rinocerontes são cegos e talvez alguns de seus desavisados seguidores também estejam e por isso, é que o diálogo vale a pena!
Mas, agora penso: quem sou eu para fazer alguém ‘despertar’? Quem era Berenger, afinal?
Humanos, que conseguem perceber que deve haver algo errado com notícias que se intitulam: “Gato é atropelado por paquiderme!”. Porque há aí um desvio e agora, mais do que nunca, está claro: muitos no Brasil não conseguem perceber.
Um amigo, acaba de me escrever: “hoje [domingo a noite, quando escrevo], teremos muito trabalho com o Fantástico”. Sim, teremos, e o trabalho só aumenta a cada notícia que vejo estampada na capa dos jornais e revistas. Por vezes, isso é desanimador. Mas, para todas as vezes que desanimo, lembro de Platão (o gato esmagado) e penso na total inversão do foco proposto pela mídia, uma inversão manipuladora e que beneficia a poucos. E logo me encho de vontade para continuar disseminando o que penso.
Nada como resistir, me ensinou Berenger. Mal sabe Ionesco, mas seu personagem “veio a calhar”. Toda a desumanização e atos inconsequentes que temos presenciado nesses últimos dias, só me fazem querer refletir mais e mais, incentivada pela grande obra.
Clarissa Carvalho Fongaro Nars
25.06.2013