Escola Paulista de Medicina
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Na Névoa existencial, por Gabriel Barreto Rossello

Nos meses de março e abril do semestre de 2015 começamos pelo livro “Névoa ” do autor Miguel de Unamuno .

Minha experiência no LabHum com esse livro representou uma mistura de sensações. Identificação com a personagem e a sua reflexão sobre a existência foram as coisas que mais me tocaram da leitura e dos encontros. Sempre traz certo alivio ler esse tipo de livros porque podemos vislumbrar a nossa própria humanidade sem ter medo de parecermos “loucos” ou “niilistas”. Névoa trouxe vários universos de discussão, mas o vazio existencial, a angustia e o “problema” do amor foram dos assuntos que mais fizeram refletir.

Por um lado, me senti identificado com Augusto porque ele perde a mãe…e eu falo que só quem perdeu a mãe sabe o quanta névoa traz isto…. A busca de um sentido depois de uma perda tão importante é vital para continuarmos com a nossa vida. Alguns fazem homenagens, outros fazem viagens e outros amadurecem. O Augusto decide buscar uma mulher, se apaixonar, mas a questão que ficou é :ele se apaixona de verdade? Pergunta que teve tentativas de ser respondida pelo LabHum, mas que deixou caminhos possíveis de reflexão em mim. Será que eu também passei –ou passo- por isso?

Uma das ideias , “A fenomenologia do Amor” , que Dante trouxe para o grupo, foi um das chaves para entender o Amor descrito no livro... As vezes queremos dar nomes o definições a coisas que são indefiníveis, mas parece que a experiência e as histórias são capazes de atingir um grau “definição” para o fenômeno... O Amor aparece em varias vertentes. Augusto como aquele amor romântico , Eugenia amor pragmático e prático, Liduvina o amor ontológico , de cuidar e da compaixão. Como essas três , dentre outras possibilidades, transitei na minha reflexão sobre o amor... No que deu ? Mais perguntas... O amor é verdadeiramente uma finalidade , um sentido de vida ? Ou é a felicidade? .. Querer a felicidade do outro não é amar? O amor nos leva a ser dependentes?

Por outro lado , a Fenomenologia da existência , questão metafísica que aparece nas reflexões do Augusto, foi outro dos temas instigantes. A questão da identidade e da palavra , como me defino eu mesmo? O meu “eu” é uma construção minha psicológica ? Ou não somos nós, humanos que escolhemos?. Vivemos a ilusão que as escolhas estão em nossas mãos e que o acaso é o destino , mas muitas vezes são tantas as coincidências na vida... O livro me trouxe essa perspectiva interessante de analise...Na procura de nossa busca de sentido e de identidade perdemos o mais valioso que é a experiência, o fenômeno da existência humana na mas pura essência... A nossa busca de identidade pode até ser tragicômico e pode levar ao fracasso de um “eu“ construído racionalmente, porém a aceitação do ridículo e do fracasso como parte da vida pode nos levar a uma humanidade nunca antes percebida em nós mesmos...até o ponto de entender que o mistério da vida e de todo o que a constrói... é uma obra, um sonho, uma narrativa...

”Os autores de romances morrem ,mas as personagens perduram como símbolo de humanidade que transcende o ser de carne e osso real”

No Labhum falamos da instabilidade do ser humano como uma característica inata nossa. Coincidentemente, logo depois de cada Labhum me faço sempre a seguinte pergunta...

Até que ponto a literatura é um ponto de partida para ter outra visão da vida e para reafirmar o mistério da Vida?

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