Foi assim que me senti a todo tempo na leitura do livro “O Idiota”. Essas ondas de racionalismo, seguidas por ondas irracionais, este descontrole infernal, confesso que me inebriaram e por algumas vezes tive que deixar o PORRE passar, para ver algum sentido no que estava lendo, ajudada pela discussão da vivência dos colegas.
A compaixão, própria do idiota seduz, pois por vezes nos sentimos incapazes de exercitá-la em sua plenitude, mas ao mesmo tempo incapacita a tomada de posição no mundo ocidental e capitalista.
A fatalidade do Ser original, já abordada por tantos outros autores, me pareceu ainda mais complexa com a exposição do personagem doente, (nada igual a outros no livro) que ao invés de discutir a morte ou sua existência ou até sua cura, segue um curso sem rumo, às vezes colado no de outros, ás vezes dissipado, sem identificação quase num abandono ao destino, inserido numa a uma sociedade decadente e vazia.
A poética descrição das auras, a da maldade, da sombra se dá com tanta aceitação, com resignação que assume um q de profético, de religioso como o próprio príncipe sem reatividade. Numa vibe de contemplação.
O espírito Cristão e a exclusão também estão presentes aparte a sociedade doentia como um contraponto. Talvez haja a presença de só um personagem estruturado e inserido tornando desigual colocá- los, príncipe e sociedade em pólos opostos de saúde e de doença.
A igualdade se deu pela loucura, por objetivos contrários ao destino que lhes foi imposto e a sapiência que no final ele acaba por vencer- nos.
O idiota é possível em nós, a compaixão é possível a este nível?
O julgamento seria inevitável, já que vivemos em sociedade que pretende moldar nosso destino. Até a felicidade é moldada. O dinheiro é “talento” como diz o livro.
Parece ser o amor universal tão inseguro quanto à paixão ou o amor descrito entre os personagens, já que igualmente trágico foi o fim de cada um deles pelo menos nesta vida.
Complexo refletir sobre qual postura tomar ou se ela na verdade co existe na jornada, ser original e aguardar a fatalidade ou se inserir socialmente e viver “comunalmente” para sempre.
Fica o desafio do equilíbrio
Relato de convivência ciclo “O IDIOTA“
LabHum 2016-10-18
Carla Giacominelli
Doutorado em Ciências
Neurologia do Comportamento