Conheci o LabHum através de um colega que também esta fazendo doutorado no programa de pós-graduação da medicina translacional. Ele me ligou e disse: Robert, tem um tal laboratório de humanidades que são 8 créditos. Após desligar o telefone, fui correndo enviar o e-mail para o Yuri solicitando a minha inscrição. Quando recebi o e-mail do Yuri, dizendo que eu estava inscrito, fiquei muito feliz, afinal eram oito créditos. Fui na livraria saraiva para comprar o livro. Confesso que quando vi que a trilogia era uma bíblia, pensei em nem ir ao primeiro encontro. Entretanto comprei o livro, mesmo sem ter a certeza que iria lê-lo .
Dia 03 de Março, meio dia , Centro de História e Filosofia da Saúde, CeHFi - Rua Loefgreen 2032, esse é o local e a data do início de um ciclo de discussões que marcariam a minha vida. Subi uma escada de ferro, pintada de verde, com degraus curtos, que eu tinha medo de tropeçar e cair. Já lá dentro duas salas, a primeira com vários livros, a maioria antigos, muitos dos quais eu só ouvira falar, por serem clássicos, de certo nada do que eu estava habituado a ler, logo pensei: será que além de ler o senhor dos anéis, vamos ter que ler outros livros ?? A segunda sala, onde seriam as discussões, tinha cadeiras brancas de plástico, um chão de madeira, uma porta de ferro com vidro ao fundo e já tinham pessoas sentadas aguardando o início dos trabalhos.
A minha primeira impressão não foi das melhores, fiquei pensando no que varia um grupo de pessoas, sentadas em círculo, ficarem discutindo um livro, principalmente hoje em dia, que existe grupos de Whatsapp e facebook pra tudo, seria bem mais prudente que fizessem um grupo de Whatsapp o senhor dos anéis e colocassem todas aquelas pessoas, não precisaríamos enfrentar o trânsito caótico de São Paulo. Quando vi que ali haviam pessoas que já tinham participado de vários outros encontros e que não precisavam de créditos, ai eu pensei: deve ser um bando de loucos.
Professor Dante e Rafael falaram como seriam os encontros, o primeiro parecia ser muito tranquilo e amigável, já o segundo não posso disser o mesmo, parecia mais um carrasco. Tinha medo de ele me perguntar algo e eu não saber responder, e de chegar atrasado e ele me repreender. Por várias vezes tive que sair de Guarulhos, onde estava trabalhando, para ir para o LabHum, em várias ocasiões enfrentei trânsito muito carregado e quando chegava o professor Rafael sempre com a cara nada amigável.
Começou o LabHum e eu só tinha lido o prefácio do livro e assistido ao filme da sociedade do anel. Já no primeiro encontro disseram que o filme era muito diferente do livro, ou seja, a minha pretensão de que talvez pudesse apenas assistir os filmes, foi frustrada.
Na segunda-feira da semana do segundo encontro, fui chamado ao hospital para avaliar um paciente, seu Archimedes, um senhor de 92 anos de idades, que estava com um aneurisma de aorta abdbominal de 10,5cm no maior diâmetro. Eu tinha que decidir entre operá-lo ou não. Qualquer decisão que eu tomasse poderia culminar com o óbito do paciente. O poder do anel , naquele momento , estava na minha mão, foi quando me dei conta de que o livro o senhor dos anéis, apesar de ser uma obra de ficção científica tinha total relação com os vários momentos de nossas vidas. Comentei então com o seu Archimedes sobre o LabHum e o livro e le me disse que já tinha lido a trilogia duas vezes, começou então a fazer um resumo da obra pra mim . A partir daquele momento eu comecei a ler o livro com prazer e me identificar com o mesmo.
Passei a sentir prazer em ir ao LabHum, não via a hora de chegar sexta feira e ir me encontrar com aquele bando de loucos, loucos por conhecimento, um grupo heterogênio em todos os sentidos: profissão, idade, cor, sexo, religião. Mas que quando juntos naquele círculo emanavam uma energia única, positiva, mágica. Era como se eu fosse ao LabHum recarregar as energias para enfrentar os Orques que cruzam o meu caminho nas mais diversas situações do dia a dia. E a cada encontro aprendia muito só escutando os relatos de todos. Também me divertia, até mesmo com as vezes que o Rafael se contrapunha com as colocações dos colegas.
Faltei em duas ocasiões , uma quando estava operando o seu Archimedes, que recuperou-se muito bem e esta fora de perigo, e outra quando tive que ir para a Califórnia fazer um treinamento. Faltei de corpo presente, mas estava conectado com todos, porque no horário do LabHum parava e pensava nos depoimentos que estavam sendo ditos naquele momento.
Praticamente não falei durante todos os encontros, poucos ali haviam escutado a minha voz, porém no último encontro me deu uma vontade enorme de falar, achei que poderia ser uma forma de agradecer por todo o tempo que escutei relatos maravilhosos, de uma obra fictícia, mas que nos envolve e sintoniza com a vida diária. Então falei, uma voz que veio de dentro, misturada com um sentimento puro de gratidão e amor.
Obrigado aos professores Dante e Rafael, de quem eu já não tenho mais medo, e sim uma profunda admiração. Espero revê-los em um próximo LabHum e que vocês continuem com esse projeto maravilhoso que emana energia e muda a forma das pessoas enxergarem o mundo.
Robert Guimarães do Nascimento, aluno do programa de doutorado da Medicina Translacional
Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde – CeHFi/UNIFESP
Laboratório de Humanidades
Obra: O senho dos anéis
São Paulo 02 de Julho de 2017