Escola Paulista de Medicina
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Os Mundos e Universos que Podemos Gestar, por Lorena Noemi Ponzoni

Ler gesta mundos, galáxias e universos nunca antes imaginados... Sim, na tua cabeça você é capaz de ter tantos universos como quiser e como quantos livros for capaz de ler. O convite para o LabHum chegou como tantos outros no Facebook, mas ligou direto com minha ratinha de biblioteca dormida desde a minha adolescência. Ela descansou bastante e acordou como sempre, inquieta e imaginativa até o céu. Ler faz isso comigo... me faz voar!! Voltar a ler Cem anos de solidão e em outro idioma gestou o mundo fantástico que não tinha encontrado naquela primeira vez em que o li desafiante, insolente e “questionante” do que significava um Premio Nobel de Literatura para um livro assim de chato e doido. Evidentemente não entendi nada com minha irreverência!!

Chegou o final de esta minha primeira experiência no LabHum e hoje (28/04/2018) terminei de reler o livro, e senti com essas últimas 20 páginas que me faltavam ler que a solidão e a desolação se apoderaram de mim. Muitas pessoas podem achar que todas essas histórias contadas por García Marquez só eram produto de uma imaginação frutífera, mais poucas pessoas conhecemos que Macondo existe e que é real, não se extermino. Ainda existem Macondos no mundo... a cada vez menos, mais tem!!

Que poderia falar dos personagens, do povo, das situações e experiências que já não estejam contadas no livro, e muito melhor do que eu poderia contar. Com respeito das personagens posso dizer que sou fá dos Aurelianos em todas suas gerações e formas, por suas inteligências, seu isolamento, com tanta capacidade de abstração e tanta dificuldade de amar... não sei, tal vez seja algo de identificação com eles. Foi difícil ter afinidade com os José Arcádios, eles tão Homo, primários, primitivos ou terrenos... para mim.... tão bestiais que não encaixam no meu entendimento, pero que aceito sua existência e sua “primitividade” como parte das múltiplas e diversas existências que devemos reconhecer. Muitos falam que é um livro machista, para mim é tudo o contrario, porque nele as histórias das mulheres, são as melhor contadas: sua origem, seus dias, suas formas, seu comportamento e valores, como também seus medos e primitividade. Para mim os homens pouco importam já que sim se chamavam Aureliano iam ser de uma forma (fraco, ermitão e taciturno) e sim eram José Arcádio (grandão e bestial).

Mais si tenho que falar da mulherada deste livro, todas tem muita história para contar e cada uma tem um valor para se apreciar; e vou tratar de resumir tudo falando da personagem de Úrsula. Ela é a coluna vertebral do livro e a alma dessa casa branca em Macondo, a casa dos Buendia. Que falar de uma mulher jovem, inexperiente que casou com José Arcádio Buendia (lembrem os José Arcádio... mais seu marido tinha uma mistura de Aureliano), e tive que deixar tudo para seguir um marido sonhador e filantropo, que gestou a travessia e conquista de Macondo junto com uma vintena de convencidos, em algum lugar dentro do mato e perto do mar, o qual era seu objetivo final... pero temos que nos lembrar que “o mundo era muito recente nessa época”. Úrsula uma mulher pequena, forte, companheira, inquieta e muito paciente, que acompanhou todos os tempos e foi o sustem de uma casa de malucos. Suas crenças eram muito arraigadas e como assim também as suas superstições. Assim entanto estive de pé, ela foi a que orquestrou todos os sucessos da casa, nada escapava a seus olhos.

Uma mulher do seu tamanho em nossos tempos, da muito terror... porque ela é independente, forte e segura. Pode fazer de tudo, até construir uma casa a partir do seu negocio de “animalcinhos” de caramelo. Mulher determinada se tem! A única coisa que não encontro explicação é no abandono da sua filhinha Amaranta e esse desespero de ir traz um filho já grande e que escolheu ir embora com os ciganos, mais aqui escrevendo surge o pensamento de que em seu coração de mãe é a primeira partida do lar e que em nessa angustia, que não conseguiu controlar... esqueceu todas suas obrigações. Outra coisa que me intrigou da ausência da Úrsula, foi sua ausência em si, ela some do livro e da história nesse período e quando volta, sabemos pouco do que ela fez e viveu nesses dias fora. Ela volta sem o sucesso de encontrar a seu filho primogênito, ninguém reclama e toma seu lugar de sempre, a de mestre de orquestra numa casa de loucos. O que sim ficou claro que com o abandono e a des- amamentação de Amaranta, ela perdeu toda conexão com sua filha e nunca conseguiu entende-la como nas suas escolhas tortuosas de amor e até nos finais de sua vida, onde ela reflexiona sobre cada integrante da família e sente essa desconexão elementar que a deixou sem uma explicação para a vida de Amaranta.

Ela é a mãe desta história e neste livro ela é a mais respeitada. No livro assistimos o desfilar de múltiplos e variados encontros sexuais e muito bem detalhados, com suas paixões desenfreadas e todas as bestialidades sem prejuízo contadas. Mais a sexualidade de Úrsula com seu marido foi contada com todo o respeito e a “escrupulocidade” que temos quando falamos da sexualidade de nossos Paes?. Aqui saíram todas as crenças e superstições da Úrsula; ela se casa, mais desconhecemos a sua ideia de casamento em sua cabeça, já que não se entrega a seu marido e o pior... se entrega a á superstição de que terá filhos com rabo de porco. Isto chega até o ponto de se converter em a fofoca do povo, que leva ao José Arcádio a cometer assassinato (sua bestialidade), com o que o casal “se senta” a conversar e todo é solucionado entre as quatro paredes do quarto do casal com noites intermináveis de barulho, mais sem outros detalhes passionais, como nas outras histórias pormenorizadas de sexo.

Ninguém tem a menor dúvida de que Úrsula é a pessoa mais paciente, dedicada e devota a sua família. Ela conhecia os desejos e necessidades de cada integrante, acompanhou a seu marido até na loucura e tentou nesse momento retê-lo na “cordura”, mais a humanidade de José Arcádio só permitiu que ele fosse amarrado numa árvore. Assim e tudo, ela não deixou de consulta-lo, contar-lhe as coisas da família e o povo.

Acho que Úrsula é a personagem menos solitária do livro, porque no mais árduo peregrinar da sua vida ela se dedicou a acompanhar e isso fez que ela fosse á pessoa na qual todos voltavam. Mais ela não podia escapar ao destino de uma vida solitária e nos seus intermináveis anos de velhice e cegara ela ficou submersa num desamparo total, a mercê de duas crianças que fizeram dela seu brinquedo e ao descobrir isto, foi seu afundamento anímico. Ela só queria que a morte chegasse, mais a vida seguiu jogando com ela, com sua solidão, escuridão e esquecimento, para não sentir. Seu processo de morte foi longo e angustioso. Ela teve que esperar a chuva, a estiagem, logo os ventos e pó, e nem assim a morte se apiedou dela!! Ela foi se secando como uva passa, voltando a um estado de dependência inimaginável para uma mulher como Úrsula, sem poder satisfazer as suas próprias necessidades. Mais nesta história, quem escapa com uma morte digna? Sua morte só era o inicio do fim e ela marcava o ritmo e estilo de como o final ia acontecer.

Senti que o livro acabou com a morte da Úrsula, para mim não tínhamos mais histórias que contar... o que ficava era só questão de tempo para sumir e a invenção das formigas e o furacão só foram miragens de um final desgarrador.

Fiquei com dois cabos soltos: O final de Meme e do seu irmão religioso José Arcádio. De Meme comentam duas frases que terminou em Europa com o nome trocado, e o irmão religioso não soubemos seu fim.

Queria pensar que a solidão é só parte do livro, mais no itinerário de lê-lo a gente descobre quão sozinhos viemos, estamos a cada vês mais com a tecnologia e nos iremos sozinhos. Não quero fazer apologia de que a tecnologia nos afasta, só quero falar que esta tirando de nossas vidas coisas primordiais, como o “tempo” diário que destinamos nas redes sociais e vem poderia ser dedicado a um “encontro cara a cara” com um amigo, ao qual agora só nos dedicamos a mandar um “saudade”; um papo gostoso e de crescimento com um professor ao nos limitar os encontros e só falar “vou mandar um email para ele”; etc.

O LabHum foi o oásis de 3 meses em minha corriqueira vida de pós graduação e trouxe de novo essa ratinha inquieta que vive em mim e que ama ler e voar!! Agradeço o espaço gestado com tanto AMOR e GENEROSIDADE pelos integrantes do CeFHi e a meus companheiros de turma que tanto aportaram para o entendimento e diversidade dos pensamentos que me fizeram sonhar os sonhos, os Macondos e mundos que poderiam estar gestando em suas cabeças.

Estas experiências são as que estão me dando o diferencial em minha formação, isto é o que quero seguir gestando, experiências de compartilhar!! Meu trabalho de pesquisa é bem solitário e meu espírito adora socializar, o que me leva a pensar que esta não será a minha única experiência no LabHum....

Muchas Gracias!!!

Lorena Noemi Ponzoni... “a Argentina”
Laboratório de Humanidades: Ciclo “Solidão e humanização”
“CEM ANOS DE SOLIDÃO” de GABRIEL GARCIA MARQUEZ
“OS MUNDOS E UNIVERSOS QUE PODEMOS GESTAR”

PD: “Uma velhice alerta pode ser mais sagaz que as averiguações das cartas” Pilar Ternera

Tomara cheguemos lá!!

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